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15 janeiro 2021

Sobre o circo de horrores

 Os nazistas e outros tantos seres doentios saíram dos esgotos e invadiram o Congresso americano.

O Homem Aranha não jogou nenhuma teia, o Super Homem não voou nem perto, e o Batman nem se moveu em sua mansão.
Não surgiram magicamente aviões e super máquinas.
Foi o que foi.
Penso que já passou da hora de vermos os Estados Unidos como o país é: Um lugar cheio de problemas e complexidades, como qualquer outro.
Os norte americanos não são melhores nem piores do que ninguém.
Esta fantasia de que todo mundo lá é rico e anda em super camionetes, é isto, uma fantasia.
Dezenas de milhões de pessoas passam fome e tem carências básicas, como aqui. O sistema de saúde deles é um caos, e se você adoece e não tem dinheiro está literalmente falido ou morto.
Há pensadores e pensadoras americanas de alto nível, de todas as matizes. Há "gente boa" de todo tipo, que luta pela vida como nós lutamos. Mas há também uma massa de medíocres, estúpidos controlados por políticos e falsos profetas, uma massa celebrizada no personagem Homer Simpson.
Foi esse Simpson estúpido que esteve lá ontem, representado por um sujeito esquisito com dois chifres na cabeça.. Ele está espalhado pelo mundo, e governa países.
A relação com o Brasil é óbvia, e nem precisaríamos ler as análises para percebê-la.
Aqui há o agravante de que o crime organizado está se armando cada vez mais, com apoio explícito do governo e o silêncio da banda podre das Forças Armadas, preocupada com os carguinhos, medalhas e privilégios.
É um circo de horrores sendo armado para o ano que vem.

02 novembro 2020

Cabelos

 Nas mulheres o cabelo carrega muito de simbólico.

Nunca é apenas um corte, uma outra cor ou um penteado diferente. É sempre algo mais, algo que está sendo dito.

Quando assumem os fios brancos pode ser o nascimento de uma nova mulher, uma virada de Saturno, a libertação ou o filho que vem.

Os cabelos crespos crescem como afirmação da identidade, como manifestação, a luta contra os modelos de uma cultura que oprime.

Tiaras, lenços e madeixas. Que venha tudo e que venha belo.

As mulheres com câncer se mostram sem eles ou cobrem de rosa suas cabeças. O cabelo continua falando, mesmo sem estar ali.

Não há quem não goste de ter os seus acariciados, homens e mulheres. Mesmo que sejam meia dúzia os fios sobreviventes.

Cabelos também podem acarinhar o rosto, grudar-se pelo corpo, se espalhar pelos espaços todos da casa, entupir o ralo do banheiro, demarcar o território enlouquecido da paixão.

Nós, homens, cortamos o cabelo e pouco ou nada acontece.

As mulheres, com dois lances quase inocentes de tesoura, mudam completamente o rosto e adquirem outra expressão.

A linguagem dos cabelos carece de leitura e olhos sensíveis. 

E há cabelos para os quais se poderia, com prazer, render culto.


30 maio 2020

Carta a um amigo escritor


Carta a um amigo escritor
Recebi “As Cartas Místicas” no início da Semana Santa e dediquei-me com entusiasmo a leitura. Tocou-me, como era o desejo do autor. Tocou-me por dentro, alma, cérebro, vísceras. Tem muita vida e muito sangue nessas cartas. Muita alegria e muita poesia, também.
As emoções mais conflituosas eu vivi, enquanto lia As Cartas Místicas e outras alegrias crônicas. Senti que as outras alegrias crônicas estabeleceram em minha mente a suavidade de um barco, deslizando em uma calmaria oceânica.
Caro amigo Elenilton, seu texto efusivo encanta. Sua sutileza inteligente em narrar fatos, apontando as agruras do cotidiano, movimenta a carne do humano, que há em nós, e que muitas vezes está dormente ou ausente, envolvida, na brutalidade de tudo.
Destaco algumas pela preciosidade do que ali está contido e pela intensidade do que produziu em mim. Da percepção atenta de “Pájaros” à serenidade delicada de “Sob o sol de Sagitário”, há uma comovente fala, que circunda os dias e as horas. Não posso deixar de apontar para a eloquência de “A saudade de uma cadeira vazia”, bem como a solenidade de “Quando encontrei o nome dela”. Os ritos quase litúrgicos de “A sopa” e o “Teatro do Teleco”, tem lágrimas e sorrisos. E a alquimia orgiástica e estética atingem o âmago do ser gente, na leitura de “Raul Seixas entre o Rock e a Filosofia e Belchior. Ao ler, imaginando, “Aquela Mulher”, reuni em mim a síntese da mística do que você quis mostrar.
Suas Cartas têm o manancial lírico, severo, crítico, amargo, lúcido, doce, próprio dos que sabem escutar os sons do mundo e entrar na dança das palavras, compartilhando saberes.
Obrigada pela alegria que suas cartas me fizeram viver.
Cecilia Pires

(Cecilia Pires é Doutora em Filosofia, escritora e poeta. Esta carta foi publicada no Facebook, como comentário ao livro "As Cartas Místicas").

26 maio 2020

Uma bela homenagem

O presidente reuniu um grupo de pessoas para homenageá-las.
Havia ali uma enfermeira, um policial, um gari, médico, socorrista, uma bombeira etc.
Cada pessoa representando um grupo destes seres que nos protegem, curam, organizam, higienizam.
Era um ato, um ritual, uma forma solene de dizer que todos respeitamos estas categorias, e que elas são essenciais nesse momento complicado da vida.
Um agradecimento coletivo, em nome de toda nação.
O presidente ali representava a nação.
Três artistas cantaram uma linda canção, emocionante. As pessoas choraram, porque a arte tem esse poder de dizer as coisas de um jeito que todo mundo entende, ou que todo mundo gostaria de dizer.
Foi lindo. Foi importante. Foi respeitoso demais para que não se fale algo sobre aquele momento.
E foi na Casa Rosada, a sede do governo da Argentina.
Deve ser muito bom ter um presidente.
Deve ser muito bom viver em um país minimamente civilizado.

15 maio 2019

As cartas místicas

"As cartas místicas" é o nome de meu novo livro.
Nestes tempos de notícias ruins, é sempre uma alegria noticiar algo bom. Oxigênio em meio à loucura. Um livro sempre é uma boa notícia.
Minhas "cartas místicas" são uma coletânea de crônicas, pequenos textos, impressões sobre a vida.
Algumas coisas estão aqui neste blog, que eu alimento bem pouco (mas tem um número impressionante de acessos).
O conteúdo do livro é uma resposta a estes tempos de ignorância e obscurantismo. Uma tentativa de responder com leveza e sensibilidade a uma época de brutalidade.
Em tempos de crise das editoras, resolvi fazer um teste com a publicação e comercialização via Internet. Está dando certo, embora muitas pessoas ainda não tenham acesso ou mantém o receio de comprar em um site. Entendo bem.
O livro está sendo comercializado na Amazon. Há duas versões: o e-book e o livro tradicional em papel. As capas são diferentes, o conteúdo é o mesmo.

O e-book é comprado e automaticamente visualizado, via aplicativo Kindle, em qualquer celular, tablet ou computador. Bem barato (7,99) e bonito de visualizar.
Já o livro em papel é encomendado e chega em torno de um mês depois na casa do leitor, da leitora. Com frete e tudo mais (ele vem dos EUA), fica em torno de 31,00. Razoável, me parece.
Há pessoas que querem comprar um exemplar do autor, sem possibilidades de negociação. À medida dos encontros que a vida proporciona, vou repassando exemplares que encomendei pensando nelas.
Bom, como as cartas são místicas, ele foi lançado em uma lua nova. E na próxima lua nova farei uma promoção de três dias, quando o e-book poderá ser baixado gratuitamente. Mais não digo. Vejam lá em www.amazon.com.br

P.S. Como vocês sabem, há uma outra obra pronta. É urgente e fala de nosso tempo. Uma adolescente que conta sua história. Uma editora avalia. Mandem boas energias para que tudo dê certo. O misticismo é real.


08 maio 2018

Teatro do Teléco



A lona toda furada, como se fosse vítima de uma chuva de estrelas quentes, denuncia a idade e os lamentos do tempo. Mas são sorridentes os seres que habitam o espaço mágico do picadeiro. Sem palco, sem jogos hipnóticos de luzes, sem propaganda, os artistas ainda iluminam o sonho de pequenos olhos. Na saída olhei o horizonte que se via dali. E eram nuvens carnosas que animavam o frio da noite.
Das sombras e das sobras do que foi um dia um bom alojamento surge o homem. Seu rosto trilhado de caminhos e habitado de olhares revela toda a grandeza de sua idade. Suas mãos são geladas e seu espírito alegre agradece-me a ajuda, o acaso formoso que nos pôs ali, frente a frente, dois homens assim tão distintos e tão próximos. Seus cabelos são levemente compridos, como se quisessem denunciar uma rebeldia que já não se necessita estravagante. Ele é um palhaço. Normal assim, como um ser humano que perdeu suas tintas deslumbrantes, poderia até fazer chorar. Conta-me das últimas desgraças, essas pequenas bravas que preferem pôr-se em nosso caminho provocando-o como adolescentes cruéis. No estado de Santa Catarina o furacão triste jogou-os para longe, sem dó algum dos cãezinhos, pombas, nem do palco carcomido de passos e passos e saltos. Fugindo dele acabaram boiando nas enchentes mais ao sul. E agora o começo de novo. E eu uma mão, mais uma.
A grandeza está exatamente em não saber o que vem amanhã, é disso que vivemos”. As palavras do homem jogaram minha cabeça para girar no carrossel. Os pedaços sonolentos dela foram até o carro e seguiram caminho até o trem, até as ruas vazias de gente, até a casa. Crianças alegres comem agora suas maçãs açucaradas e no seu lambuzo infantil nem percebem que ainda me quedo ao lado, como um fantasma de tudo que eu não fui. Uma parte do que sou e outra do que poderia ter sido navegam nos aplausos do circo.
Teatro do Teléco. A criança que eu fui reclama seu lugar no futuro e aos prantos rasga o meu peito e pede passagem. Eu estou aqui.



Um dia de chuva



Ela pousou o olhar sobre a foto do avô e da avó, como os conheceu: velhinhos, meigos.
Olhando os olhos da avó não pôde conter o choro.
- Que saudade vó! – disse de si para si.
E, de repente, a saudade triste e melancólica deu lugar à alegria. Um som suave vindo da rua fez-lhe virar a cabeça.

A calçada estava transformada em um tapete de mil cores e do céu caía uma chuva colorida de pétalas.