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31 outubro 2012

Manchete infeliz

Hoje o jornal Zero Hora estampou uma de suas mais infelizes manchetes:
"Uma tempestade de U$ 35 bilhões".

Diante de uma tragédia, colocar o dinheiro como notícia mais importante é algo no mínimo discutível.
As perdas econômicas jamais são o que há de mais importante quando há vidas em jogo.
No caso do furacão (ou ciclone) que chegou à costa americana, não há porque ser diferente.

Entretanto, em Cuba o mesmo ciclone teria causado 11 mortes. E você precisa ser muito bem informado para saber disto. Simplesmente porque Cuba não está nas manchetes. 
Perguntar não ofende: a vida de um americano vale mais que a de um cubano? 

24 outubro 2012

O ser que me continua

Toumani Diabaté é de Mali. Conheci sua música há alguns anos, pesquisando sobre música africana. É um dos grandes.
Vale muito conhecê-lo, conhecer a música da África. Conhecer a África, da qual não sabemos nada.
Surpresa agradável o encontro dele com os brasileiros Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra, que já fazem a minha cabeça desde sempre.
E esta letra, "Que me continua", acabei interpretando como um presente de aniversário.


20 outubro 2012

Buñuel fala do mistério

"Escolhi meu lugar, é dentro do mistério. Resta-me respeitá-lo.
A fúria de compreender e, por conseguinte, de apequenar-se, mediocrizar-se - fui espezinhado a vida inteira com perguntas imbecis: por que isto? por que aquilo? - é um dos infortúnios de nossa natureza. Se fôssemos capazes de entregar nosso destino ao acaso e aceitar sem angústia o mistério de nossa vida, uma certa felicidade poderia estar próxima, bastante semelhante à inocência."

Luis Buñuel, um dos grandes cineastas da história, espanhol, no livro "Meu último suspiro" (Ed. Cosac Naify, pág. 246).

Se aparecesse ao final a assinatura de Nietzsche, não causaria nenhum espanto a quem o conhece - o filósofo.
A aceitação do deus acaso, da imaginação e a valorização da vida é parte do que me alia aos dois.

18 outubro 2012

Nietzsche e a solidão (anotações)


O solitário
Zaratustra é um solitário não porque viva como um eremita, mas porque é um criador. Vale lembrar que há uma espécie de inversão na ideia da caverna, tão cara para os professores e a educação no Ocidente. Na alegoria de Platão, a caverna corresponde à ignorância das trevas e cabe aos filósofos serem como aquele que rompeu os grilhões e saiu para ver a luz do sol, da razão.
Em Nietzsche a caverna é exatamente para onde vai o criador. Zaratustra sobe até a caverna, onde ficará por dez anos solitário. No caminho é visto por um velho que percebe que ele está carregando cinzas. Provavelmente são as cinzas do Deus morto. Destas cinzas ele produzirá chamas. Em outras palavras, do niilismo passivo da perda total do sentido ele criará outros valores e ações que valorizem a vida através de um niilismo ativo, criador.
A solidão dele não é isolamento, é criação. E sempre se dá no alto, pois somente o solitário pode suportar as vertigens que a altitude provoca.
Ser solitário é poder dar a si mesmo o seu bem e o seu mal, criar seus próprios valores. Em vez de perder-se em meio à homogeneidade das multidões, do rebanho, ele escolhe a singularidade da solidão dos cumes. É nela que pode buscar a superação dos valores demasiado humanos das massas, o caminho para o além-do-homem ou super-homem.
Por paradoxal que pareça, os discípulos de Zaratustra são exatamente os solitários, os que se elegeram a si próprios, aqueles que servirão como pontes para o além do humano:
“Quedai-vos vigilantes e à escuta, ó solitários! Chegam ventos, do futuro, com misterioso bater de asas; e trazem boa nova aos ouvidos finos.
Vós, os solitários de hoje, os segregados, sereis, algum dia, um povo; de vós, que vos elegestes a vós mesmos, deverá nascer um povo eleito, e dele – o super-homem.” (Da virtude dadivosa, pág. 91).
A pregação de Zaratustra é voltada para o futuro, num tom esperançoso e visivelmente parodiando trechos dos evangelhos cristãos. Entretanto, logo após dizer isto ele pede que os chamados discípulos se afastem dele, pois “retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo”.
“Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra? Sois os meus crentes; mas que importam todos os crentes!
Ainda não vos havíeis procurado a vós mesmos: então, me achastes. Assim fazem todos os crentes; por isso, valem tão pouco todas as crenças.
Agora, eu vos mando perder-vos e achar-vos a vós mesmos; e somente depois que todos me tiverdes renegado, eu voltarei a vós.” (p. 92)

O discípulo não deve imitar o mestre, ser ou pensar igual a ele. O discípulo deve superar o mestre no caminho do além-do-homem, do super-homem. Esta pregação Zaratustra havia feito primeiramente ao povo, na praça, depois de voltar de sua caverna. Agora ele a faz aos solitários, ao povo dos solitários.
No prólogo da Gaia Ciência, alguns anos antes, ele há havia escrito:
“Agrado-te, os meus discursos atraem-te,
queres seguir-me e seguir o trilho dos meus passos?
Segue-te fielmente a ti mesmo.
E assim me seguirás...muito suavemente, muito suavemente.”

O aforismo 443 de Aurora, diz o seguinte:
“Sobre a educação – Paulatinamente esclareceu-se, para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e educação: ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina – a suportar a solidão.”


Passados quase um século e meio depois que Nietzsche lecionou, é evidente que seus piores sonhos se tornaram realidade. A massificação da cultura, a educação e formação para o mercado...

É possível a solidão (nos termos de Nietzsche) em nosso tempo?
Como podemos viver a solidão quando até estar sozinho precisa ser “compartilhado”?
Solidão num tempo em que o imaginário é colonizado? Em que somos, como sociedade, produtos de um aparelho que funciona como prótese de nosso olho?



08 outubro 2012

E os nulos e brancos?


23 milhões de pessoas não foram votar. 3,8 milhões votaram em branco e 9,1 milhões de votos nulos.

Parece que nem todo mundo está tão feliz com a "festa da democracia".
Queremos muito mais democracia. Menos eleições onde ganha o poder econômico.
Reforma política urgente!

07 outubro 2012

Comentando as eleições


Fortunati promete "salto de qualidade".
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Ele é inteligente e sabe que comanda uma administração pífia.
Os grandes vencedores, além dele próprio, são Tarso e Dilma.
Fortunati é aliado do PT aqui e lá.
Se Manuela vencesse, poderia fortalecer a senadora Ana Amélia Lemos em 2014.
Então tem muita gente que "acha" que votou contra o PT, mas está fazendo parte do bolo...

Em Alvorada parece que deu uma mudança, que bom. Cidade abandonada. Em muitos lugares, ainda, os petistas representam esperança de algo diferente. "Quem não tem colírio...".
Em Rio Grande perdeu um senhor direitoso.
Em São Paulo, naquele contexto, o Haddad é quase revolucionário (risos).

Interessante a votação do Psol pelo Brasil. Alguma coisa acontece. Está no segundo turno em duas capitais.
O Marcelo Freixo, no Rio, com 1 minuto de propaganda e quase nenhum dinheiro
enfrentou toda a máquina do PMDB e PT e fez quase 30% dos votos.
É o tipo de derrota que soa como vitória.
Este cara é o novo na política do Brasil, ele representa uma possibilidade de mudança.

Pedro Ruas é o mais votado em Porto Alegre! Muito bom!
E a Fernanda Melchionna foi reeleita com um caminhão de votos (o meu tá aí).
Interessante o cara do Massa Crítica ser eleito também.
Até mesmo na base do prefeito, tem uns tenebrosos que não se reelegeram.

O que ninguém na midia vai comentar são os 10% ou mais de votos nulos e brancos. Todo mundo finge que eles não existem. Manipulação geral para escondê-los.

Lamentável a forma como as pessoas votam. Até os ditos esclarecidos cobram uma coerência dos políticos que não expressam em seus próprios votos, menos ainda em suas atitudes.

06 outubro 2012

Defesa pública da alegria

Vídeo sobre o movimento que aconteceu em Porto Alegre no dia 04 de outubro.

"A cidade precisa de espaços de afeto". Esta é a síntese mais precisa para nossas necessidades para lá de importantes. "A gente não quer só comida", lembram da letra dos Titãs?
Quando os espaços públicos começam a se tornar espaços de propaganda para grandes corporações, alguma coisa está errada...algumas coisas estão muito erradas.