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24 fevereiro 2014

Vândalo News

A cobertura ia bem, acobertando a verdade..."até que um pequeno grupo de jornalistas resolveu cometer atos de jornalismo. Eles foram contidos pela polícia editorial..."

Ótimo!



20 fevereiro 2014

De trem

Há uns dias atrás o Érico disse: "Eu nunca andei de trem em toda a minha vida".
Então pegamos o trem e fomos visitar o Irmão Henrique Justo, 
no La Salle em Canoas, e tiramos aquela foto que ficou na promessa
durante a Feira do Livro de Porto Alegre (o querido Marco Nedeff já não estava mais lá na sessão de autógrafos).
Ele ficou entusiasmado com o livro "A Caixa de Perguntas", me disse esperar que muitos outros professores/as se aventurem com experiências deste tipo pelo Brasil.
Henrique Justo tem 92 anos, e segue animado, lúcido, ligado no mundo. Lê muito, então tem sempre coisas interessantes para contar e discutir. Está com um problema no tornozelo, por isso anda mais caseiro. Até dezembro seguia dirigindo normalmente.
Autor de 26 livros, foi professor durante décadas nas áreas de Psicologia e Pedagogia e tem uma história e uma cultura invejáveis.
Passaram por suas aulas e cursos figuras de tendências distintas, desde o filósofo da libertação Antonio Sidekum, até a escritora conservadora Lya Luft, o jornalista Walter Galvani...
Sua marca como educador é o humanismo, e suas aulas democráticas e abertas.
Foi aluno e amigo do psicólogo americano Carl Rogers, e garante que no Brasil há muita incompreensão em relação à "liberdade para aprender".
Estamos aí, três gerações na foto. E as janelas todas abertas.
Oxalá todos nós tenhamos saúde e lucidez para chegarmos assim aos noventa e dois também!




Três pedidos e um sonho


19 fevereiro 2014

Politicanalhas e administraidores

Governos bancando eventos de mega corporações.
Isto sim podemos chamar de vandalismo. Pornografia.
"Tô na pista pra negócio", este é o funk da politicanalhice brasileira.
Politiqueiros. Capachos. Administraidores.
Depois ficam por aí uns comentaristas chapa-branca fazendo de conta
não entender por que as pessoas vão pras ruas, sem partido,
sem liderança tradicional, sem rótulos.
Estes políticos que estão aí continuarão, cada vez mais iguais. Eles e o seu coro de contentes.
Mas a falência desta forma de política levará a outras formas de organização,
outros jeitos de ser e se exprimir que já estão aí/aqui.
Até estas formas se cristalizarem de forma mais precisa, haverá violência.
Não por que eu ou você queiramos, mas porque a violência acontece quando o espaço do diálogo desaparece.
Só não entendeu ainda quem está olhando o mundo pelo retrovisor, esperando o velho líder que a estas horas está namorando com o antigo inimigo.

18 fevereiro 2014

Cinema argentino

Quando eu crescer
quero escrever
do mesmo jeito
que os argentinos
fazem filme.
Conseguem tornar grande
o menor ato,
e numa pequena história
desnudam toda a humanidade.

15 fevereiro 2014

Murar o medo (Mia Couto)



O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demónios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem, servindo como agentes da segurança privada das almas. Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos. Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada não por estranhos, mas por parentes e conhecidos. Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambientes que reconhecemos. Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura, do meu território.
O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura, algo me sugeria o seguinte: que há neste mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.
No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável casting internacional: os chineses que comiam crianças, os chamados terroristas que lutavam pela independência do país, e um ateu barbudo com um nome alemão. Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo. Os chineses abriram restaurantes junto à nossa porta, os ditos terroristas são governantes respeitáveis e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência.
O preço dessa construção [narrativa] de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo cometeram-se as mais indizíveis barbaridades. Em nome da segurança mundial foram colocados e conservados no Poder alguns dos ditadores mais sanguinários de que há memória. A mais grave herança dessa longa intervenção externa é a facilidade com que as elites africanas continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos.
A Guerra-Fria esfriou mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo, a Oriente e a Ocidente. E porque se trata de novas entidades demoníacas não bastam os seculares meios de governação… Precisamos de intervenção com legitimidade divina… O que era ideologia passou a ser crença, o que era política tornou-se religião, o que era religião passou a ser estratégia de poder.
Para fabricar armas é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentar as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho começaria pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”.
Aos adversários políticos e militares, juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade é imprevisível. Vivemos – como cidadãos e como espécie – em permanente situação de emergência. Como em qualquer estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa.
Todas estas restrições servem para que não sejam feitas perguntas [incomodas] como, por exemplo, estas: porque motivo a crise financeira não atingiu a indústria de armamento? Porque motivo se gastou, apenas o ano passado, um trilião e meio de dólares com armamento militar? Porque razão os que hoje tentam proteger os civis na Líbia são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadaffi? Porque motivo se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça?
Se queremos resolver (e não apenas discutir) a segurança mundial – teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes. Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que sejam precisos pretextos de guerra. Essa arma chama-se fome. Em pleno século 21, um em cada seis seres humanos passa fome. O custo para superar a fome mundial seria uma fracção muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo.
Mencionarei ainda outra silenciada violência: em todo o mundo, uma em cada três mulheres foi ou será vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida… A verdade é que… pesa uma condenação antecipada pelo simples facto de serem mulheres.
A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome, e como militares sem farda deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e de discutir razões. As questões de ética são esquecidas porque está provada a barbaridade dos outros. E porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência nem de ética nem de legalidade.
É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha. A chamada Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente, morreram mais chineses construindo a Muralha do que vítimas das invasões do Norte. Diz-se que alguns dos trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora de quanto o medo nos pode aprisionar.
Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos. Mas não há hoje no mundo muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente… Citarei Eduardo Galeano acerca disso que é o medo global:
“Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quem não têm medo da fome, têm medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.”
E, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe.
Mia Couto

14 fevereiro 2014

Nas ruas

nas ruas
um gato deslizava
entre os carros
 magro

nas ruas
modelos assombravam outdoors
com suas caras
espantalhos

nas ruas
um palhaço
enchia bêbado azuis
balões

nas ruas
insetos
incertos
imensidões

nas ruas
um cego na chuva
anunciava sentado
loterias

nas ruas
um homem cortês
mostrou-me o chão
cuidado

nas ruas
chovia
nas ruas
o vento
nas ruas





12 fevereiro 2014

Globo, PT, Copa e estas coisas

Hoje, na feira, ouvi os comentários dos feirantes sobre o fato do momento.
Aí você vê como funciona o jogo todo.
Você não precisa ver TV para saber o que ela passa: as pessoas ficam repetindo como papagaios a versão televisiva (em geral sem fazer pergunta alguma sobre).
A exploração da morte do cinegrafista é ótima para a Globo e o governo, grandes interessados em que os protestos contra a Copa não cresçam.
Negócios são negócios, já diria o pilantra. E pessoas nas ruas atrapalham a imagem vendida para o exterior.
O governo se preocupa com as agências internacionais, porta-vozes do Deus Mercado. Por isso vale a pena até dar rasteira nos seus próprios aliados, como o governador do RS que ficou a ver navios...
Segundo o jornalista Mino Carta (da Carta Capital), jamais a Rede Globo
ganhou tanto em publicidade quanto agora, no governo Dilma.
Isto deve ajudar a explicar por que a Globo e o PT fazem o mesmo discurso, repetem as mesmas acusações contra quem se manifesta.
Mas sem ilusões: fosse o PSDB e a coisa seria a mesma. Porque os políticos daqui são apenas cabeças de área de interesses maiores, situados sabe-se lá onde e sempre em nome do dinheiro.
Infelizmente estamos assim.
Paro por aqui, vou seguir brincando com o Érico. Inté.


08 fevereiro 2014

Sou mais samba


"Menino, tome juízo
escute o que vou lhe dizer
o Brasil é um grande samba
que espera por você
podes crer, podes crer!"

    Candeia

em "Em sou mais samba"



Sobre a dor

"O samba é a tristeza que balança"

      Vinicius

07 fevereiro 2014

Perdemos o Nico

Grande pessoa que perdemos, grande artista. Nico Nicolaiewsky.
Lembro que a primeira vez que conversamos foi num show dos Mulheres Negras,
no Santander Cultural.
Impossível não notar a familiaridade do Nico com o humor e originalidade do Mauricio Pereira e do André Abujamra.
Me chamou logo a atenção sua gagueira, que ele fez questão de reafirmar brincando o tempo todo com ela. Era um sujeito agregador, que prestigiava os artistas daqui e fazia questão de tentar aproximações.
Doce pessoa.
Adoro Tangos e Tragédias, como todo mundo. Mas me tocam mesmo os discos solo, lindos e tocantes. Tantos os discos do Nico quanto aquela obra do Hique Gomez, do homem banda.
"Onde está o amor?" nós cantamos alto aqui em casa. Só a mediocridade do esquema das rádios (jabá) para explicar por que várias delas não viraram sucessões.
"Feito um picolé no sol", do primeiro disco, é obra prima.
Nico conheceu o sucesso, e merecia muito mais.
Cedo, cedo demais.