Há
fábricas de dias que virão.
Neruda
Em
Isla Negra estão os restos do grande poeta. De frente para o
Pacífico encontrou ele sua melhor morada. Ali mesmo, onde vivo
abraçou-se com o mar revolto e conversou com as gaivotas.
O
quarto de Pablo e Matilde era uma extensão do mar. Não se sabe bem
se os estrondos ouvidos naqueles tempos eram os ecos daquele grande
amor ou os rugidos do monstro marinho.
A única demarcação de
espaços entre a poesia e o mar é dada pelos sinos. Eles continuam
lá, mas já não badalam. Sem o toque do poeta parece que morreram
de tristeza. No entanto, correm boatos de que crianças que
visitaram a casa viram um velhinho de boina tocando um sino quando o
sol foi dormir.
Quando fui na casa de Neruda ouvi
Gracias a la vida tocada ao piano. Sentado na areia grossa e
multiforme - que foi tapete para seus passos - desejei o mate da
mulher ao lado. E disse “gracias” ao meu próprio desejo. E por
estar vivo joguei uma moeda e um pedido na fonte.
A
casa do poeta é um lugar de peregrinação do sonho. Tudo nela é
mar. Pedras, plantas, miniaturas de barcos engolidas por garrafas,
belas carrancas de navios fantasmas, instrumentos de marinheiros
devorados pelas sereias.
Naquela casa senti-me como um peixe metálico
flutuando em um de seus poemas.
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