dureza, mesmo, Elenilton. Eu já perdi dois alunos quando trabalhava no Saint-Hilaire. Uma ex-colega me disse que durante vinte e um anos de magistério, nunca tinha perdido um aluno; o primeiro tinha sido aquele. Vamos aos fatos. O primeiro aluno subiu num ônibus e, antes que o motorista fechasse a porta, o guri resbalou e caiu no meio-fio da rua. Ele teve traumatismo craniano e morreu. O outro daria um filme: a irmã do meu ex-aluno veio ao seu encontro no colégio e me perguntou se eu havia visto o fulano na aula. Após olhar a chamada, disse-lhe que não o havia visto fazia duas semanas e que naquele dia ele não havia ido à escola mesmo. Pois, ao final da tarde, a servente veio falar comigo e me disse que a irmã do guri era aluna da EJA na escola. Em resumo, tanto a mãe como a irmã mais velha davam uma surra no aluno toda vez que ele ia jogar videogame e voltava tarde da escola. Numa dessas surras o aluno fugiu de casa e não voltou mais. Encontraram-nos atropelado, longe de casa, vagando pelas ruas de Viamão. Como ele estava fraco por não se alimentar, não viu o carro que vinha direto para ele. Assim como no Dolores, os professores e a comunidade fizeram uma caminhada pela paz, sobretudo em prol do primeiro aluno, o Sandro. Até há pouco tempo ainda tinha a camisa que confeccionamos em sua homenagem.
Ainda me emociono ao lembrar o silêncio que se instalou na Avenida!!! Sabia que aparecemos no Jornal do Almoço? Não sei se comentaram, mas nossa caracterização (roupas e rostos) foi priorizada entre tantas possibilidades de imagem.
Dolores protesta! Texto para o desfile da "semana da pátria na Restinga", em 02 de setembro:
No dia 12 de agosto nosso aluno Juarez Fernando Oliveira Weber estava em uma lan house, na Restinga, às onze horas da manhã, e foi brutalmente assassinado. Ele não foi o único dos jovens da Restinga assassinados. São dezenas todos os anos. Por isto estamos aqui nestre desfile vestidos de preto. O preto demonstra nosso luto pelo Juarez e por todos os jovens que morreram em meio à violência espalhada pelo bairro. Nosso luto é em respeito às famílias que choram seus filhos perdidos. Nossos rostos estão pintados em forma de protesto. Segurança já! Esta é nossa palavra de ordem! Não estamos aqui para pedir. Estamos exigindo! É um absurdo que nossos jovens não possam caminhar livremente e em paz por nossas ruas. A Restinga, um dos maiores bairros de Porto Alegre, só é bem tratada nas propagandas dos políticos. Na vida real a Restinga é carente de todos os serviços. Basta caminhar pela Restinga para se observar o abandono. Mas o pior dos abandonos é a falta de segurança. O pior dos abandonos é não podermos caminhar em paz pelas ruas do bairro. Uma pátria com medo não é uma boa pátria de se viver. Por isto estamos de preto. Por isto nossos rostos estão pintados. Por isto estamos desfilando em silêncio. Não há o que comemorar no dia de hoje. Estamos aqui para protestar e exigir dos governos que façam seu trabalho. Não vai haver paz enquanto o Estado estiver ausente. Não queremos a paz dos cemitérios! Queremos a paz de caminhar sem medo, de estudar sem medo. A paz de andar livremente pela Restinga. Estamos de preto e com os rostos pintados em protesto. Protesto contra os governos que esqueceram de nós. Nosso silêncio no Desfile da Semana da Pátria é um protesto. Não é esta a pátria que nós queremos! Chega de violência! Segurança já!
dureza, mesmo, Elenilton. Eu já perdi dois alunos quando trabalhava no Saint-Hilaire. Uma ex-colega me disse que durante vinte e um anos de magistério, nunca tinha perdido um aluno; o primeiro tinha sido aquele. Vamos aos fatos. O primeiro aluno subiu num ônibus e, antes que o motorista fechasse a porta, o guri resbalou e caiu no meio-fio da rua. Ele teve traumatismo craniano e morreu. O outro daria um filme: a irmã do meu ex-aluno veio ao seu encontro no colégio e me perguntou se eu havia visto o fulano na aula. Após olhar a chamada, disse-lhe que não o havia visto fazia duas semanas e que naquele dia ele não havia ido à escola mesmo. Pois, ao final da tarde, a servente veio falar comigo e me disse que a irmã do guri era aluna da EJA na escola. Em resumo, tanto a mãe como a irmã mais velha davam uma surra no aluno toda vez que ele ia jogar videogame e voltava tarde da escola. Numa dessas surras o aluno fugiu de casa e não voltou mais. Encontraram-nos atropelado, longe de casa, vagando pelas ruas de Viamão. Como ele estava fraco por não se alimentar, não viu o carro que vinha direto para ele. Assim como no Dolores, os professores e a comunidade fizeram uma caminhada pela paz, sobretudo em prol do primeiro aluno, o Sandro. Até há pouco tempo ainda tinha a camisa que confeccionamos em sua homenagem.
ResponderExcluirAdriano.
JÁ TE DISSE QUE FICOU PERFEITO NÃO É?
ResponderExcluirAinda me emociono ao lembrar o silêncio que se instalou na Avenida!!!
Sabia que aparecemos no Jornal do Almoço? Não sei se comentaram, mas
nossa caracterização (roupas e rostos) foi priorizada entre tantas
possibilidades de imagem.
Vamos lá...
Abç
Dolores protesta!
ResponderExcluirTexto para o desfile da "semana da pátria na Restinga", em 02 de setembro:
No dia 12 de agosto nosso aluno Juarez Fernando Oliveira Weber estava em uma lan house, na Restinga, às onze horas da manhã, e foi brutalmente assassinado. Ele não foi o único dos jovens da Restinga assassinados. São dezenas todos os anos.
Por isto estamos aqui nestre desfile vestidos de preto. O preto demonstra nosso luto pelo Juarez e por todos os jovens que morreram em meio à violência espalhada pelo bairro. Nosso luto é em respeito às famílias que choram seus filhos perdidos.
Nossos rostos estão pintados em forma de protesto.
Segurança já! Esta é nossa palavra de ordem!
Não estamos aqui para pedir. Estamos exigindo! É um absurdo que nossos jovens não possam caminhar livremente e em paz por nossas ruas.
A Restinga, um dos maiores bairros de Porto Alegre, só é bem tratada nas propagandas dos políticos. Na vida real a Restinga é carente de todos os serviços.
Basta caminhar pela Restinga para se observar o abandono. Mas o pior dos abandonos é a falta de segurança. O pior dos abandonos é não podermos caminhar em paz pelas ruas do bairro.
Uma pátria com medo não é uma boa pátria de se viver. Por isto estamos de preto. Por isto nossos rostos estão pintados. Por isto estamos desfilando em silêncio. Não há o que comemorar no dia de hoje.
Estamos aqui para protestar e exigir dos governos que façam seu trabalho. Não vai haver paz enquanto o Estado estiver ausente.
Não queremos a paz dos cemitérios!
Queremos a paz de caminhar sem medo, de estudar sem medo. A paz de andar livremente pela Restinga.
Estamos de preto e com os rostos pintados em protesto. Protesto contra os governos que esqueceram de nós. Nosso silêncio no Desfile da Semana da Pátria é um protesto. Não é esta a pátria que nós queremos!
Chega de violência! Segurança já!