No meio das gentes ela surge
com um sorriso que abre o caminho
por entre manequins, bandeiras e
cheiros de pipocas
ela vem sem medo, sem receio
de abrir com seus dedos dourados
a palidez cinza da tarde
ela tem um dom de surgir
aparecer de repente
e voltar a sumir
surgir, sumir, surgir..
como a natureza em ciclos
agora está diante dele
e o olhar de poeta
percebe a mulher em que
ela se tornou
os olhos negros descobrindo
o mundo
os cabelos lisos derramando-se
sobre a argola brilhante
um pouco de tudo nas mãos
nos bolsos, nas bolsas
garrafas de vinho doce
e na boca palavras meigas
que fazem valer a vida
telefones que tocam em silêncio
anunciando trabalhos
trens lotados que levam a
uma irmã com saudade
cada vez que abre o sorriso
cobre-o de pétalas
enquanto as gentes correm
em círculos, como formigas tontas
que fogem de chinelos imaginários
o poeta - que tanto maldizia a solidão -
naquele momento desejou voltar a ser só
para poder abrir uma porta no tempo
onde os dois pudessem entrar
no meio das gentes ela vai
com um passo leve que inaugura a noite
e abre atalhos por entre rostos
e pães de queijo
No outro dia
entre papéis, computadores e burburinhos
ela com “voz de criança”
pede textos, textos, textos
uma mensagem para relaxar
pede atenção
e o poeta tenta
com os braços abertos e
a música calma que ressoa em seu peito
retribuir as pétalas com
que ela o tatuou
elenilton neukamp
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