Estava
na fila do caixa de uma farmácia quando senti que alguém se apoiava
em meu braço. Minha sobrinha Mariana me olhou assustada,
acompanhando lentamente o desequilíbrio de um velhinho. Por sorte,
meus reflexos foram rápidos e impediram que ele se chocasse contra o
chão. No dia seguinte, diante de meus olhos, outro senhor tropeça
em um pedaço de calçada mal cuidado e acaba também tendo sua queda
evitada por mim. Não tive dúvidas, os velhinhos pediam para entrar
no meu texto.
Vivemos
em um país contraditório, que envelhece na mesma intensidade que
cultua uma suposta superioridade da juventude. Segundo dados do IBGE
em menos de 30 anos o Brasil, paraíso das cirurgias plásticas, terá
a maioria da população de pessoas maduras, que chamamos idosas. O
raciocínio é simples: diminuem os nascimentos e a população
envelhece. Alie-se a isto os avanços consideráveis da medicina que
tendem à aumentar cada vez mais a expectativa de vida, e a
popularização crescente de informações acerca dos cuidados com a
saúde.
Aliado
a um culto tolo à estética superficial vem o preconceito, sobretudo
nos grandes centros. No interior do Brasil são os aposentados que
mantém com suas aposentadorias a economia de famílias e cidades
inteiras, o que lhes confere maior respeitabilidade. Nas grandes
cidades, reféns da cultura do imediatismo e do consumismo, os
velhinhos são vistos como estorvo, possivelmente porque não
conseguem acompanhar a velocidade de uma sociedade neurótica que não
consegue parar.
Outro
dia vi um motorista de ônibus reclamando de um senhor que, segundo
seu limitado raciocínio, deveria escolher outro horário para pegar
o coletivo. Em outras palavras o que ele dizia é que há um horário
para quem faz parte do jogo e outro para quem está fora. Enquanto se
consome assim em sua própria estupidez, não percebe que a geração
que hoje exclui os mais velhos é exatamente aquela que amanhã será
vítima da exclusão que ajudou a produzir.
Mas
há um movimento que o próprio passar do tempo ajuda a construir.
Uma outra cultura, ainda incipiente, começa a tomar vulto e se
delineia nos “bailes da terceira idade” dos círculos populares e
na afirmação e robustez da produção intelectual realizada na
academia por pensadores por vezes já na casa dos noventa. Enquanto a
cultura da velocidade e das emoções baratas mata nossos jovens, os
velhinhos nos chamam à reflexão e nos ensinam a sagrada arte de
ouvir. Ouçamos então.
Elenilton Neukamp
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