Samba de uma nota só.
Sigo insistindo em minha escola para que façamos um protesto por segurança. Um aluno nosso foi assassinado, em uma lan house, às onze da manhã de uma sexta-feira. Vários tiros pelas costas, porque usava um boné parecido com alguém marcado pelos assassinos.
A classe merdia parece que perdeu mesmo o sangue. Nem a morte de um jovem inocente mobiliza mais as pessoas. Que decepção.
E se fosse um jovem de classe média alta?
Para um garoto da periferia sobram racionalizações, suspeitas, e um deus que silencia. Questão de classe.
Voltamos ao velho Marx. Polícia está aí para defender quem? Nas vilas reina o crime. Jovens acuados silenciam e se resignam. Alguns insistem e encaram um trampo e uma merreca de salário, outros procuram algum entorpecente - maconha, televisão, internet, álcool, igreja. "Uns dizem fim/uns dizem sim/e não há outros", já disse um jovem Caetano nos anos oitenta.
Uma aluna me escreve: "sou legal com meus amigos, mas em casa me tranco no quarto, choro, me corto, bagunço tudo...o que devo fazer?".
Todos os dias alguém me pergunta "o que que eu faço 'sor'?". E vamos procurando novas possibilidades. Não desistimos da vida, nós, os jovens de qualquer idade.
Pergunta que não se colocam aqueles que não fazem coisa alguma pela meninada.
O que fazer?
Perguntinha básica. A gente nem precisa de filosofia alguma pra se colocar. Só daqueles dois neurônios que restaram e estão pipocando em algum lugar lá dentro do coco.
Mas tá difícil pensar, neste mundinho besta onde a maior preocupação é se vão ou não vão conseguir trocar de carro no final do ano.
Esta questão é importantíssima!!! Aqui no Ceará, o crack tá dominando tudo e a pistolagem é aberta! Faroeste!!! Tá contra, manda matá!!!! E, tb, não se faz nada...a classe média faz orações,vai a missa....
ResponderExcluirmuito bom Lelê...
ResponderExcluirvou passar para os alunos...
abração
a impressão que eu tenho é que pensam que é só mais um
ResponderExcluirtemo pelo futuro,penso que enquanto só ficarem tentando resolver os problema em gabinete a coisa não vai
ter solução.
Tá feia a coisa,eu sinto isso longe agora,creio que nossos dirigentes também vêem as coisas assim de dentro dos gabinetes
ResponderExcluirmas quem se depara com isso é muito dolorido e passa a idéia de que se foi mais um.Até quando isso,parece que não tem fim.
Os comentários "anônimos" deste post são alguns dos e-mails que recebi sobre o texto.
ResponderExcluirsobre isso, um poema. Do Ferreira Gullar.
ResponderExcluirDigo sim
Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos do meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperançasa entre pulmões
e nuvens
Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.
A vida nós a assamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
– em meio à violência e a solidão dizendo
sim –
pelo espanto da beleza
pela flama de Tereza
pelo meu filho perdido
meu vasto continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela
– digo sim
Um abraço Elenilton e sorte pra tua idéia de protesto aí no Dolores.
Ana Zatt
obs: como conta do Google continuo não conseguindo postar no teu blog. só como anônimo. Por isso assino embaixo.
Valeu Ana!
ResponderExcluirVamos fazer um protesto no "desfile da pátria" da Restinga. É pouco, mas já é algo, num mundo onde as pessoas se sentem resignadas em meio à loucura e a desgraça...