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16 abril 2010

Cinema, democracia e escola


Há uma semana participei de um curso com a cineasta paulista Moira Toledo, na sala de cinema PF Gastal da Usina do Gasômetro (em Porto Alegre). O grande número de professores presentes me faz pensar que nem todos estão resignados com nosso marasmo cultural. E uma paulista falante, munida de armas perigosas - microfone e câmera - veio nos sacudir com sua lucidez e percepção; despertando em muitos a "curiosidade epistemológica" de que falava o mestre Paulo Freire.
A luta de Moira, em nível nacional, é pela democratização da produção do audiovisual e do acesso a ela. Venho insistindo nisto há muito tempo, e é o que promovo em minhas aulas de Filosofia. Moira anda pelo país incentivando o "cinema de quebrada", que eu classificaria como um movimento de contracultura.
É um absurdo vivermos em um país com tamanha riqueza e diversidade cultural, e não termos acesso ao resultado prático dela. Isto vale para a música, o cinema, a televisão. Você sabe o nome dos atores que ganharam o Oscar, mas não conhece seu vizinho que gravou um CD ou escreveu um livro. Algo parece estranho nisso.
Este é um tema crucial para a educação: a democratização da mídia, em sentido amplo. Não se pode pensar a construção de uma nação com uma população sendo educada prioritariamente pela televisão (que está nas mãos de meia dúzia de corporações). O tema soa antiquado, mas não menos verdadeiro. A mesma percepção vale para o magistério, na sua responsabilidade de educar. Ou alguém aposta em uma formação realizada por educadores que se reduziram à lamentável condição de comentadores de "realytes shows"?
Dividir com os alunos a produção de filmes pode ser uma experiência profundamente enriquecedora, para todos. Experimentar com eles outros olhares, e proporcionar o acesso à produção cultural nacional faz parte de nossa tarefa tanto quanto a 'transmissão' do saber específico de cada um.
Moira, com seu conhecimento técnico, defende que o contato com o fazer cinema proporciona um outro olhar sobre qualquer produção. Aí incluídos a TV e seus subprodutos.
Mas é na relação entre os envolvidos que se dá a grande transformação. Um grupo que produz um audiovisual aprende a se relacionar, a discutir, a ouvir a posição do outro. Aprende. E o que podemos querer mais, em nossas escolas, senão aprender e ensinar?
Nossa...já estou ficando com medo! Alunos fazendo e aprendendo a ver cinema. Escolas ensinando gente a ser gente. Democratização da informação. Isto já está virando conversa de subversivo.


Abaixo reproduzo o texto "Cinema e educação", que faz parte do meu livro "A caixa de perguntas e outras histórias de aprendiz" (ainda não publicado).

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