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01 outubro 2013

Os velhinhos

Estava na fila do caixa de uma farmácia quando senti que alguém se apoiava em meu braço. Minha sobrinha Mariana me olhou assustada, acompanhando lentamente o desequilíbrio de um velhinho. Por sorte, meus reflexos foram rápidos e impediram que ele se chocasse contra o chão. No dia seguinte, diante de meus olhos, outro senhor tropeça em um pedaço de calçada mal cuidado e acaba também tendo sua queda evitada por mim. Não tive dúvidas, os velhinhos pediam para entrar no meu texto.
Vivemos em um país contraditório, que envelhece na mesma intensidade que cultua uma suposta superioridade da juventude. Segundo dados do IBGE em menos de 30 anos o Brasil, paraíso das cirurgias plásticas, terá a maioria da população de pessoas maduras, que chamamos idosas. O raciocínio é simples: diminuem os nascimentos e a população envelhece. Alie-se a isto os avanços consideráveis da medicina que tendem à aumentar cada vez mais a expectativa de vida, e a popularização crescente de informações acerca dos cuidados com a saúde.
Aliado a um culto tolo à estética superficial vem o preconceito, sobretudo nos grandes centros. No interior do Brasil são os aposentados que mantém com suas aposentadorias a economia de famílias e cidades inteiras, o que lhes confere maior respeitabilidade. Nas grandes cidades, reféns da cultura do imediatismo e do consumismo, os velhinhos são vistos como estorvo, possivelmente porque não conseguem acompanhar a velocidade de uma sociedade neurótica que não consegue parar.
Outro dia vi um motorista de ônibus reclamando de um senhor que, segundo seu limitado raciocínio, deveria escolher outro horário para pegar o coletivo. Em outras palavras o que ele dizia é que há um horário para quem faz parte do jogo e outro para quem está fora. Enquanto se consome assim em sua própria estupidez, não percebe que a geração que hoje exclui os mais velhos é exatamente aquela que amanhã será vítima da exclusão que ajudou a produzir.

Mas há um movimento que o próprio passar do tempo ajuda a construir. Uma outra cultura, ainda incipiente, começa a tomar vulto e se delineia nos “bailes da terceira idade” dos círculos populares e na afirmação e robustez da produção intelectual realizada na academia por pensadores por vezes já na casa dos noventa. Enquanto a cultura da velocidade e das emoções baratas mata nossos jovens, os velhinhos nos chamam à reflexão e nos ensinam a sagrada arte de ouvir. Ouçamos então.

Elenilton Neukamp

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