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14 novembro 2010

O Amor (parte I)


“Quanto mais o amor me transpassar, quanto mais violentamente
me fizer arder, tanto melhor me vingarei das minhas feridas” (Ovídio)

Os deuses fizeram uma grande festa, onde apenas a deusa Penia (Pobreza), miserável e faminta, não foi convidada. Mas, ao final da festa, Penia aparece, come os restos e dorme com o deus Poros (Riqueza) sem que ele compreenda o que está acontecendo. Da relação dos dois nasceu Eros (Cupido), que como sua mãe está sempre sedento e faminto mas, como seu pai, tem sempre astúcia para se satisfazer e se fazer amado.
O amor, assim, é representado como a ânsia de sair de uma situação de penúria para uma de riqueza, a oscilação entre possuir e não possuir; algo que não se tem e se deseja ter, ou se tem ainda que não se saiba; o que se quer viver e não se vive ou o que se está vivendo sem perceber.
Em outro mito, Eros é filho de Afrodite e Ares. Vive flechando os corações para apaixoná-los, mas acaba ele mesmo se apaixonando por Psiqué (Alma). Sua mãe, com inveja da beleza de Psiqué, afasta-a dele e a submete a duras provas e sofrimentos, dando-lhe como companheiras a Inquietude e a Tristeza. Novamente aparece o amor como união de elementos opostos, ou como nas palavras de Sócrates no Banquete: “É capaz de desabrochar e de viver, morrer e ressuscitar no mesmo dia. Come e bebe, dá e se derrama, sem nunca estar rico ou pobre”.
Para Platão, Eros deve subordinar-se a Logos, ou seja, o amor subordina-se à razão. A razão é mais forte que a paixão e a comanda, ao contrário do que sugere a música de Tom Zé: “Amar, amar/ceder ao coração/a razão...” Já um filósofo como Nietzsche vai num caminho distinto do de Platão. Deixar a razão comandar, diz ele, é uma estupidez, atitude de fracos que temem o poder avassalador de seus próprios instintos, de sua força vital. Para ele, bom é tudo o que fortalece o desejo da vida e a razão não deve intrometer-se e ditar regras. Mas será mesmo assim? Será que é a própria razão um problema? Ou será que devemos guiar-nos por ela e controlar nossas paixões?




(Na foto, o casamento de Fernanda e Jordi. Porto Alegre, outubro de 2010)

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