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05 novembro 2017

Cães e homens



Pesquisas recentes têm demonstrado a crescente disposição de boa parcela da população em preferir a companhia dos cães, em detrimento aos de sua própria espécie: os humanos.
Mas não se animem os leitores da filosofia pessimista de Schopenhauer, imaginando que sua fórmula ranzinza popularmente conhecida como “quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães” tenha, enfim, triunfado. Que nada!
As pessoas cada vez mais gostam dos cães simplesmente porque cada vez menos conhecem seus semelhantes (o Outro, este estranho). Os humanos, bípedes, racionais, passageiros do século XXI, são a antítese de homens profundos como Schopenhauer. Não se sabem nem querem saber, e ainda por cima têm raiva de quem sabe.
Com os avanços da biotecnologia e o empobrecimento da linguagem, em breve poderemos ver cachorros de óculos perguntando “por quê?” e humanos, pela rua, latindo e carimbando os postes.
Por algum tempo, talvez, o mundo torne-se mais engraçado.


...pois, francamente, como se restabelecer da infinita dissimulação, falsidade e malícia dos homens, se não houvesse os cães, em cuja face honesta podemos mirar sem desconfiança? Nosso mundo civilizado não passa de uma imensa mascarada. Ali encontramos cavaleiros, padres, soldados, doutores, advogados, sacerdotes, filósofos, e o que não mais! Porém estes não são o que representam: são simples máscaras, sob as quais, via de regra, se situam especuladores financeiros.”

Arthur Schopenhauer (1788/1860)