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19 maio 2016

Carpinejar, o falso feio

     Foi num encontro frustrado com uma garota, numa praça remota de Paris, que o filósofo Jean-Paul Sartre descobriu que era feio. E por isto, teria que mostrar algo mais do que a mera aparência. E este "algo mais" era sua própria inteligência. Baixinho e estrábico, o jovem Sartre logo percebeu o poder sedutor das palavras.
     Hoje o escritor Fabricio Carpinejar veio fazer uma visita em nossa escola. Fabricio se diz feio, e insiste tanto nesta ideia que quase convence. Na infância sofreu com os apelidos maldosos que lhe eram dados. Mas não se calou. Desde cedo ele também soube o poder liberador que as palavras têm. Quem é excluído, quem sofre bullyng, quem apanha com palavras rudes precisa aprender a se defender. A sua defesa, a sua arma foi a inteligência. As palavras certas ditas na face suja do agressor.
     Fabricio falou com os estudantes. Nos contou suas histórias. Fez rir e talvez chorar. Entre uma graça e outra, quando sua platéia se abria em risos, ele vinha com uma fala certeira e forte. Falou sobre liberdade, sobre o medo que todos nós temos da tal responsabilidade. Não somos tímidos por medo de que algo dê errado. Não temos medo do fracasso. O nosso grande medo é que as coisas dêem certo, que aquela pessoa interessante nos diga sim. Pois o "sim" nos obrigará a agir, a sair de nossa zona de conforto.
     Eu conheci (como leitor) o Carpinejar quando ele assinava Fabricio Carpi, e trabalhava no jornal VS em São Leopoldo. Na mesma época eu escrevia crônicas para o jornal. As matérias jornalísticas dele eram impressionantes, porque iam muito além do fato. Eram textos carregados de sensibilidade poética e lirismo. Ele foi demitido porque era muito inteligente, e dizia a verdade em seus textos: algo imperdoável na imprensa brasileira. Fui seu leitor atento, e é incrível que só viemos nos conhecer pessoalmente vinte anos depois, embora tenhamos uma grande amiga em comum. O tempo tem seus caprichos.
     Fabricio hoje é mais conhecido por seu personagem midiático que, segundo ele, pretende usar o riso para confundir, mexer com as pessoas. Este personagem, esta persona risonha, divulga o poeta, o menino de olhar meigo que ele permanece sendo.
     Aos sete anos de idade, quando sua avó faleceu, ele fez seu primeiro poema. Morria a avó e nascia o poeta. Hoje tivemos um belo momento com este moleque poeta escritor, que de tão esperto quase consegue enganar dizendo-se feio.




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