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28 outubro 2013

Ao meu herói japonês

O japonês Sadao Tabira tinha 12 anos de idade quando a bomba atômica explodiu sobre a cidade de Nagasaki.
A maioria de seus parentes e amigos morreu naquele fatídico 9 de agosto de 1945. Foi o maior de todos os crimes.
Pois o garoto não desistiu.
Insistiu, apesar da fome e das privações.
Se tornou bombeiro para salvar vidas, e depois da aposentadoria começou a participar de maratonas. Parar nunca esteve em seus planos.
 Hoje, em Porto Alegre, ganhou várias medalhas no Campeonato Master de Atletismo. Ele está com 80 anos de idade!
Ele diz que tomou para si a responsabilidade de viver tudo aquilo que seus amigos não puderam viver. Não esqueceu das vítimas, nunca deveríamos esquecê-las.
Para ele eu dedico (singelamente) as alegrias deste dia.
E a borboleta amarela que voava pela sala dos professores.
Se um garoto faminto e triste pode sobreviver a uma bomba nuclear,
por que não haveríamos nós de sobreviver aos pequenos e grandes absurdos deste nosso tempo e lugar?


23 outubro 2013

Vôo 41

Na fila de embarque rumo ao vôo 41.
Em desacordo com algumas normas ortográficas, eu as desacato.
Tão distraído com algo que estou produzindo, que até chego a pensar que amanhã é feriado. Doce ilusão. E por ser doce eu a abraço com toda a vontade!
Venha a mim ela e seus véus.
Acabo de ler um texto que fala da alegria de existir como
resposta à tristeza imposta pelo poder.
E pensando em alegria e resistência, me deparo com um vídeo de uma criança (filhinha de um casal de ex-alunos) contando a história da independência do Brasil, ao seu jeito.
As crianças nos ensinam muitas coisas. Também a alegria.

18 outubro 2013

Chico Buarque

E como não admirar um cara como o Chico Buarque?
Quantos sujeitos famosos no Brasil estão dispostos a dizer "eu posso estar errado", ou (como ontem) pedir desculpas publicamente a alguém?
Há uma nobreza neste cara que não tem nada a ver com o fato de ter grana, fama ou vir de uma família de classe média alta.
Se tivéssemos uma elite deste porte seríamos outro país.

Ao invés disto temos uma "elite" tosca, bunda-mole, cheia de dinheiro e vazia de tudo mais. Uns boçais como o governador do Rio, que vai a Paris com o dinheiro dos outros tomar champagne de 2 mil dólares e tirar fotinho com guardanapo de restaurante na cabeça...e junto dele uma catrefa de empresários tão sujos quanto ele.

11 outubro 2013

E a caixa virou livro

Para que vocês agendem desde já, faço aqui o convite para a sessão de autógrafos do meu livro "A Caixa de Perguntas", no dia 10 de novembro (domingo), 15h, na Feira do Livro de Porto Alegre.
O livro ficou muito bonito, bom de se ler, atrativo. Só as perguntas dos alunos/as já valem a leitura, difícil parar de lê-las...
Espero vocês lá!


07 outubro 2013

Somos todos Amarildo

O desaparecimento do pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro, levado de sua casa e torturado por policiais militares, escancara um Brasil quase invisível para quem não é da periferia.
O Brasil dos desaparecimentos, da prisão ilegal, da tortura. 
As vítimas são geralmente pessoas pobres e negras, porque no Brasil a condição social e a cor da pele influenciam nas possibilidades de você ser vítima de uma polícia treinada para proteger alguns e reprimir muitos.
"Somos todos Amarildo" é o grito de todos e todas que não estão de acordo.
Quem luta por um pais mais justo e menos desigual não pode silenciar.





03 outubro 2013

Marina leva rasteira


Não sou de nenhum partido, nem votei na Marina Silva.
Mas é evidente que há um jogo pesado para tirá-la da disputa.
Um monte de partidos de fachada sendo aprovados, e exatamente o partido dela é o único que não recebe registro.
Enquanto isto, a senadora líder dos fazendeiros se filia no PMDB e vai enfim assumir o casamento entre os destruidores da Amazônia e o PT. Só faltava mesmo o beijo e as fotos, porque o negócio já estava fechado há tempos.
Sem Marina, voltamos ao mesmo esquema: Dilma para ganhar e o PSDB pra perder...Puro teatro para nos dar a impressão de que decidimos alguma coisa.

02 outubro 2013

Professores perigosos




O que aconteceu? Será um sequestro? Prenderam um traficante perigoso? Acertaram alguém no tiroteio? Um foragido da Justiça foi encontrado? Alguém morreu? Quantas vítimas? Os moradores do centro de Porto Alegre apavoraram-se com o que viram passar à sua frente.
O nervoso Grupamento de Operações Especiais andava na contramão com seus homens fortemente armados, sob uma chuva que começava a cair. Foram encontrar-se com o Batalhão de Choque e mais 210 policiais militares, além de seus cães adestrados e carros de combate. O clima tenso parecia preparar-se para um derramamento de sangue.
Os uniformes novos do Batalhão de Choque e seus escudos reluzentes poderiam impressionar até o mais insensível dos assassinos, assim como suas botas enormes prontas para esmagar o inimigo. Sorte dos bandidos que toda essa força e esse aparato policial não é colocado contra eles. Senão eles veriam que o mundo do crime não compensa.
Todos esses homens e essas armas foram colocados em frente ao palácio do governo para protegê-lo desse grupo perigoso dos professores, quer dizer, professoras (a maioria são mulheres). Sim, nunca se sabe o que professoras em greve estão tramando. Essas senhoras com cara de anjo podem estar carregando bombas. Vejam essas sinetas estridentes, o que garante que não sejam no fundo armas?
Mas o maior perigo desta gente vem de suas bocas. Em outros países resolveram unir-se com jovens visionários e todos sabemos no que deu. Por isto é melhor que o governo mantenha a sociedade livre desta ameaça, pagando-lhes vencimentos miseráveis e evitando que nossa mocidade receba suas más influências. Para tanto, o patrocínio de programas televisivos e o uso da força policial se tornam medidas necessárias.
Professores são extremamente perigosos porque podem perturbar a paz social. Por vezes insistem para que nossos filhos leiam livros, escrevam, pensem por conta própria. Que absurdo! Não há necessidade de ler. Não há necessidade de pensar. Só necessitamos de gente que trabalhe em silêncio para o crescimento do país. E assim poderemos servir de modelo à toda terra.

Elenilton Neukamp, professor de Filosofia


[Este texto foi publicado há alguns anos no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e infelizmente volta a ser atual..de uma maneira ainda mais bruta]


01 outubro 2013

Os velhinhos

Estava na fila do caixa de uma farmácia quando senti que alguém se apoiava em meu braço. Minha sobrinha Mariana me olhou assustada, acompanhando lentamente o desequilíbrio de um velhinho. Por sorte, meus reflexos foram rápidos e impediram que ele se chocasse contra o chão. No dia seguinte, diante de meus olhos, outro senhor tropeça em um pedaço de calçada mal cuidado e acaba também tendo sua queda evitada por mim. Não tive dúvidas, os velhinhos pediam para entrar no meu texto.
Vivemos em um país contraditório, que envelhece na mesma intensidade que cultua uma suposta superioridade da juventude. Segundo dados do IBGE em menos de 30 anos o Brasil, paraíso das cirurgias plásticas, terá a maioria da população de pessoas maduras, que chamamos idosas. O raciocínio é simples: diminuem os nascimentos e a população envelhece. Alie-se a isto os avanços consideráveis da medicina que tendem à aumentar cada vez mais a expectativa de vida, e a popularização crescente de informações acerca dos cuidados com a saúde.
Aliado a um culto tolo à estética superficial vem o preconceito, sobretudo nos grandes centros. No interior do Brasil são os aposentados que mantém com suas aposentadorias a economia de famílias e cidades inteiras, o que lhes confere maior respeitabilidade. Nas grandes cidades, reféns da cultura do imediatismo e do consumismo, os velhinhos são vistos como estorvo, possivelmente porque não conseguem acompanhar a velocidade de uma sociedade neurótica que não consegue parar.
Outro dia vi um motorista de ônibus reclamando de um senhor que, segundo seu limitado raciocínio, deveria escolher outro horário para pegar o coletivo. Em outras palavras o que ele dizia é que há um horário para quem faz parte do jogo e outro para quem está fora. Enquanto se consome assim em sua própria estupidez, não percebe que a geração que hoje exclui os mais velhos é exatamente aquela que amanhã será vítima da exclusão que ajudou a produzir.

Mas há um movimento que o próprio passar do tempo ajuda a construir. Uma outra cultura, ainda incipiente, começa a tomar vulto e se delineia nos “bailes da terceira idade” dos círculos populares e na afirmação e robustez da produção intelectual realizada na academia por pensadores por vezes já na casa dos noventa. Enquanto a cultura da velocidade e das emoções baratas mata nossos jovens, os velhinhos nos chamam à reflexão e nos ensinam a sagrada arte de ouvir. Ouçamos então.

Elenilton Neukamp