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28 agosto 2012

21 agosto 2012

Raul Seixas entre o rock e a filosofia


Raul Seixas entre o rock e a filosofia

A música é apenas um veículo, eu estou com o microfone na mão...isso é uma coisa importante, é uma arma tão poderosa quanto a bomba atômica!
Raul Seixas

À noite, sozinho no flat, Raul prepara sua janta e assovia “À beira do Pantanal”. Escreve sobre aquele momento, diz que no outro dia estará rindo disso tudo. Na manhã seguinte a empregada encontra-o morto. Era 21 de agosto de 1989. Essa é a versão lendária. Na verdade ele chegou completamente bêbado, arrastando-se. Dormiu e não mais acordou.
(Foto: papo com o Sylvio Passos, no último domingo em Porto Alegre)


Na tarde do dia seguinte saio de meu local de trabalho e atravesso a rua. Meu amigo camelô se dirige a mim num tom um tanto decepcionado: “Morreu o nosso homem!”. Mas quem seria esse “homem” dos camelôs, estudantes e empregadas domésticas? Ninguém menos que o grande Raul Seixas.
Irresponsável, anarquista, cáustico, místico, irônico... Os adjetivos são muitos e as opiniões sobre ele também. O certo é que Raul foi um artista inconformado com seu tempo, e esta talvez seja a grande marca de sua obra.
Leitor voraz de literatura e filosofia, foi desta última disciplina que teve aulas particulares. Também gostava de psicanálise, tanto que em seus primeiros shows lia trechos inteiros de Freud.
Gravou 20 discos solo, escreveu um livro e um gibi intitulado “A fundação de Krig-ha”, que teve sua tiragem de 5.000 exemplares destruída pelos órgãos de repressão da ditadura militar. Como tantos outros artistas brasileiros, Raul Seixas foi muito perseguido e censurado. Até o fim de sua vida várias músicas permaneciam censuradas, como a famosa “Mamãe eu não queria” (um verdadeiro libelo contra o serviço militar obrigatório). Ele pergunta: “Mamãe, o exército é o único emprego pra quem não tem nenhuma vocação?”.
Para Raul, o chamado rock and roll havia morrido em 1959. E aquele que era feito no Brasil, com raras exceções, era uma imitação do americano que ele considerava ruim. Ele também não via futuro nos novos movimentos, como o punk. Seriam apenas modas, nada que pudesse atingir seriamente “os alicerces do Sistema”. Em sua visão, a única coisa que resistia aos modismos era “a verdade, o coração, aqueles escolhidos que não são afetados pela passagem do tempo”.
Talvez ele mesmo tenha se tornado um destes “escolhidos”, um clássico. Pois como podemos explicar o fato de que um cantor que já morreu há 20 anos continue vendendo milhares de CD's diariamente? Sem nenhum esquema de mídia ou divulgação, Raul Seixas segue sendo um fenômeno de vendas. Seu público não tem perfil definido. Pode ser um pré-adolescente pobre ou um senhor de classe média alta. Há inclusive uma música do Zeca Baleiro que brinca com isto. Há um bordão, uma frase que é escutada em apresentações musicais em todo o Brasil, independentemente do estilo: “Toca Raul!”. Zeca fala que isso deixava-o irritado, mas depois resolveu render-se e compor uma canção falando desse “poderoso” Raulzito que parece ter uma seita de seguidores.
Embora fosse criador de um tipo, o “maluco beleza”, Raul nunca conseguiu equilibrar muito bem a maluquez e a lucidez. O dionisíaco e o apolíneo. Foi o álcool que o matou. A mais consumida das drogas, seu veneno predileto. Por outro lado, talvez fosse lúcido demais para suportar a droga em que o mundo estava transformado.
Quando era perguntado se gostava de dar murro em ponta de faca, dizia que sim. Era um artista popular, com muitos sucessos comerciais, mas nunca rendeu-se ao esquemão das gravadoras. “Se não fizesse isso, não dormiria à noite...”, afirmava.
Em Porto Alegre, dois meses antes de sua morte, disse que não acreditava mais que a juventude pudesse fazer uma mudança radical na sociedade. Falando pouco e pausadamente, emocionou as pessoas que foram assistí-lo e que sabiam serem a última vez que o estavam vendo. A primeira e última, como era meu caso. “Agora é com vocês”, disse ele, e virou os microfones para o público. Era uma despedida respeitosa.
Na China os estudantes protestavam. A imagem do revoltado em frente ao tanque passeou indiscriminadamente pelo planeta. Engraçado foi que o chamado “Ocidente” utilizou a fotografia para vender a sua proclamada liberdade, fingindo que sua história também não foi toda construída sobre o autoritarismo. Raul lembrou esse fato no show, dizendo que durante a ditadura no Brasil os jovens eram reprimidos da mesma forma: “Não podíamos conversar, ficar juntos, éramos logo reprimidos...como na China agora”.

Compará-lo com os ícones da MPB, como Chico ou Elis, não seria uma boa recomendação. Estamos falando de tribos diferentes, embora uns e outros se escutavam e se respeitavam. Quando Elis Regina morre, ele lhe escreve um belo poema. E é para ela que teria sido enviada “Areia da ampulheta”, que ela não quis ou não teve tempo de gravar. Raul mergulhou em tudo, ardeu em todo fogo que se meteu. Não pretendia a maturidade e precisão que outros procuraram e criaram tão bem. Sua obra pode ser chamada sem medo de brasileira. Está tudo ali. O cancioneiro popular com suas dores de amor, a colonização através do rock e a antropofagia do ritmo dos outros: baiões, flautas, pandeiros e violas envolvendo o canto de protesto estrangeiro. Jackson do Pandeiro misturado com Chuck Berry.
Das viagens de trem com o pai, pelo interior baiano, a sonoridade de Luis Gonzaga. A mãe em casa escutando discos de tango, Piazolla ocupando com prazer a sala da casa nas manhãs de domingo. Os vizinhos americanos apresentando discos recém lançados de um novo som, que representava bem mais do que somente música. Esta mistura toda está em Raulzito. Este talvez seja o grande segredo que o torna uma figura estranha e original na história da música brasileira. “Sou o que sou, sem mentiras pra mim...” é o que ele diria.
Foi ouvindo as canções de Raul Seixas e lendo suas entrevistas, que tive os primeiros contatos com nomes como Sartre, Nietzsche e Schopenhauer.
Com ele entrei em contato com a Filosofia. E é com ele que encerro este livro. Este caminho que percorremos juntos e que nos faz desde agora cúmplices.


[Texto inédito para o livro "As cartas místicas", ainda não publicado]

14 agosto 2012

Cortina de fumaça

Documentário que trata da questão das drogas, trazendo outra visão e denunciando a verdadeira cortina de fumaça que é feita. A proibição que gera violência e que pune apenas os mais pobres.
Vale a pena assistir!


08 agosto 2012

Mensalão, PT e anti-PT


O mensalão é mais um escândalo, e aconteceu. A grande mídia se aproveita dele para bater no PT (que fazia a mesma coisa quando os escândalos eram dos outros).
O fato de um governante ser bem votado ou bem avaliado em pesquisas (como o caso de Lula e Dilma) não está diretamente relacionado com sua honestidade, nem tampouco com sua ideologia. Esta conversa de que o apoio popular isenta os dois não me convence. Parece mais chantagem.


Vejo os "antipetistas" criticarem um PT que não existe há muito tempo. E os petistas - se é que acreditam no que falam - defenderem um partido e um governo que existe muito mais em suas fantasias.
O governo brasileiro não é revolucionário, nem está fazendo nenhuma grande transformação.
A disputa PT-PSDB é por ocupação de poder, e não ideológica.
Querem um exemplo? O Eduardo Paes, no Rio de Janeiro. Ele era do PSDB, chamava o Lula de ladrão para baixo. Entrou no PMDB e agora é aliado de primeira linha do PT. Ficou bonzinho? Foi para a esquerda? Não. Está jogando, defendendo seus interesses.

A política econômica do PT é uma sequência da anterior.
Os partidos que apoiam o PT, com exceção do DEM, são os mesmos que estavam com FHC.
Essa ideologização que os petistas tentam fazer também é jogada de mídia, porque não tem relação com a realidade. É mídia contra mídia.
Generalizando, direita e esquerda no Brasil se confundem. Há exceções, mas raríssimas. Infelizmente para todos nós.
A política é cada vez menos política de verdade. Virou esse jogo podre de quem dá mais.

Se algum destes grandes partidos pretendesse MESMO transformar algo no Brasil, deveria estar propondo uma reforma política radical que acabasse com o esquema que alimenta as eleições com dinheiro sujo.
O PT, com o poder que tem hoje, poderia fazer isso. Mas não quer. Não é mais do seu interesse...

04 agosto 2012

Eu tenho um vizinho chamado Jesus


Eu tenho um vizinho chamado Jesus.
Todo dia Jesus sai a passear com seus dois cães, um deles velho e trôpego como ele.
Na verdade, Jesus nem é tão velho. A aparência de velhinho ele adquiriu com as agruras da vida e do abandono.
Somos amigos, eu e Jesus. Ele me chama de professor.
Jesus mora na vila aqui ao lado. Nos encontramos sempre na rua, com nossos cachorros e nossas conversas. Numa delas ele me pediu um livro de geografia, para decorar de novo o nome das capitais.
Mas Jesus tem sofrido muito com as dores.
Esperou uns 8 meses por uma consulta. Uma hérnia maldita que queria rebentar.
Depois mais dois anos pela cirurgia. A hérnia estourou na virilha, horrível.
Passaram-se dois anos e meio e Jesus passou pela cirurgia. Voltou tão “esgualepado” quanto seu cão mais velho. Por algum motivo que não lhe foi revelado houve um problema durante o procedimento cirúrgico e lhe retiraram um dos testículos. E é isso o que tem mais lhe incomodado.
Outro dia Jesus leu na capa de um jornal popular que “a saúde está bem obrigado”.
Depois de mais de dois anos e meio para conseguir consultar e fazer uma cirurgia (que era urgente), Jesus achou estranho. Veio falar comigo, já que eu sou “o professor”.
E ficamos eu e Jesus tentando entender onde é que está essa saúde boa.
Em Porto Alegre é que não é...

01 agosto 2012

Criminalizar a homofobia


Tem cada gênio na Internet...
Acabo de ler uma notícia sobre um rapaz que foi assassinado em Tapes. Ele era homossexual, e há suspeita de homofobia. Esta é a notícia.
Aí um acéfalo (um imbecil) resolve comentar a notícia, criticando. E o que ele diz "contra"? Que as palavras homoafetividade e homofóbico são inventadas.
Tudo o que faz parte do nosso mundo humano é inventado. As palavras são criações e são sempre carregadas de sentido.

Não há lei que cure a burrice.
Mas certamente precisamos de leis que tornem crime a violência contra os homossexuais gerada pelo preconceito.

Não precisamos ser gays para perceber que há violência contra eles.
Assim como não precisamos ser mulheres para nos darmos conta do absurdo que é a violência contra as mulheres no Brasil.

Basta juntar aquele segundo neurônio que sobrou com aquele que a televisão ainda não conseguiu destruir...