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24 outubro 2011

Elenilton, 39


São tempos meio malucos estes, até na comemoração dos aniversários. De qualquer forma, é inevitável que a gente pense na vida neste dia.

Recebi várias felicitações muitos dias antes da data, o que achei curioso.
Você percebe que o tempo está passando quando uma criança, que você não conhece, lhe envia uma mensagem de parabéns. A menina é filha de uma ex-aluna e assim se identifica, me chamando de "sor" e me conquistando com sua simpatia.
Também não posso deixar de registrar a gentileza da primeira-dama do Estado, que me felicitou por este dia. Entre a menina e a primeira-dama, uma constelação de amigos e amigas que fazem a vida fazer sentido.

Aos 39 já sou amigo dos filhos de meus amigos. E me identifico com eles, porque apesar de ter 39 anos de idade, tenho 16 de vontade e uns 50 de nostalgia - de passados que nem vivi e de futuros que irão se inventar.

Aos 39 ainda não sei comer massa direito, nem apontar um lápis sem que a ponta quebre. Faço tudo em casa, e sei cozinhar relativamente bem (às vezes muito bem), mas nunca soube muito bem como fritar um ovo. Vê-se que há coisas que não aprendemos nunca. Gramática, por exemplo. Escrevo sem saber das regras e parece que as coisas vão bem. Ao menos as palavras nunca reclamam de maus tratos...

Todos os dias aprendo alguma coisa nova com meus alunos e alunas. E as dezenas ou centenas de mensagens e e-mails que recebo todos os meses são a prova de que os professores seguem sendo importantes na vida das pessoas. Com emoção reencontro ou sou reencontrado quase todos os dias.

Estou na velhice de minha adolescência. O que quer dizer que agora consigo elaborar melhor aquela antiga indignação, que quanto mais antiga maior fica.
Não me corrompi nem entrei no jogo. Por isto encaro com alegria aquele menino de vila que fui e que segue vivo em mim. Eu não o traí. Nem mudei de lado. Estou na classe média, mas sem nenhum deslumbramento com suas ilusões de consumo. Sou o mesmo cara simples que você conheceu, com 12, 16, 23 ou os 39 anos de agora.

Aos 39 estou lendo mais poesia e literatura. A Filosofia vem em doses homeopáticas e certeiras. Sigo escrevendo. Livros prontos, mas a velocidade de publicar é mil vezes menor do que o desejo de vê-los passeando na rua nas mãos de bons leitores.

Aos 39 ainda preciso explicar meu daltonismo (que eu mesmo não entendo). Enxergo todas as cores mas só sei o nome das primárias. Me dizem "é aquele ali, o cinza..." e é como se estivessem falando grego. As pessoas pensam que 'me faço de louco', mas não é verdade: a loucura já veio incluída no pacote, é hereditária.
Mas mesmo sem entender as cores, e no meio de minha eterna rebeldia com as injustiças do mundo, sigo vendo e inventando cores e nomes.

Toda semana escrevo alguma coisinha no "Blog do Elenilton".

E a foto mostra um momento entre eu e meu guia para um mundo melhor, o Érico. É ele que tem ocupado meu tempo e meus maiores esforços neste 2011. É um doce, e uma hora dessas eu apresento pessoalmente pra vocês.

No mais, obrigado pelo carinho e seguimos. Porque 'o caminho se faz ao caminhar'.

5 comentários:

  1. Cando era mais nova..todos me dicían, me repetían con insistenza machacona, "agora pensas así pero xa cambiarás", "xa te adaptarás" "xa cederás". Cada ano que pasa é un mais de resistenza a crónica dun cambio anunciado..
    Parabéns de novo, meu vello ;) amigo. Mila

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  2. Olhem só o que disse escreveu hoje o filósofo Vladimir Safatle:


    VLADIMIR SAFATLE

    Eles sabem o que fazem

    Um dos mantras preferidos daqueles que chegam aos 40 anos é: os jovens de hoje não têm grandes ideais, eles não sabem o que fazem.
    Há algo cômico em comentários dessa natureza, pois os que tinham 18 anos no início dos anos 90 sabem muito bem como nossas maiores preocupações eram: encontrar uma boa rave em Maresias (SP), aprender a comer sushi e empregar-se em uma agência de publicidade. Ou seja, esses que falam dos jovens atuais foram, na maioria das vezes, jovens que não tiveram muito o que colocar na balança.
    Por isso, devemos olhar com admiração o que jovens de todo o mundo fizeram em 2011.
    Em Túnis, Cairo, Tel Aviv, Santiago, Madri, Roma, Atenas, Londres e, agora, Nova York, eles foram às ruas levantar pautas extremamente precisas e conscientes: o esgotamento da democracia parlamentar e a necessidade de criar uma democracia real, a deterioração dos serviços públicos e a exigência de um Estado com forte poder de luta contra a fratura social, a submissão do sistema financeiro a um profundo controle capaz de nos tirar desse nosso "capitalismo de espoliação".
    Mas, mesmo assim, boa parte da imprensa mundial gosta de transformá-los em caricaturas, em sonhadores vazios sem a dimensão concreta dos problemas. Como se esses arautos da ordem tivessem alguma ideia realmente sensata de como sair da crise atual.
    Na verdade, eles nem sequer têm ideia de quais são os verdadeiros problemas, já que preferem, por exemplo, nos levar a crer que a crise grega não seria o resultado da desregulamentação do sistema financeiro e de seus ataques especulativos, mas da corrupção e da "gastança" pública.
    Nesse sentido, nada mais inteligente do que uma das pautas-chave do movimento "Ocupe Wall Street". Ao serem questionado sobre o que querem, muito jovens respondem: "Queremos discutir".
    Pois trata-se de dizer que, após décadas da repetição compulsiva de esquemas liberais de análise socioeconômica, não sabemos mais pensar e usar a radicalidade do pensamento para questionar pressupostos, reconstruir problemas, recolocar hipóteses na mesa. O que esses jovens entenderam é: para encontrar uma verdadeira saída, devemos primeiro destruir as pseudocertezas que limitam a produtividade do pensamento. Quem não pensa contra si nunca ultrapassará os problemas nos quais se enredou.
    Isso é o que alguns realmente temem: que os jovens aprendam a força da crítica. Quando perguntam "Afinal, o que vocês querem?", é só para dizer, após ouvir a resposta: "Mas vocês estão loucos".
    Porém toda grande ideia apareceu, aos que temem o futuro, como loucura. Por isso, deixemos os jovens pensarem. Eles sabem o que fazem.

    VLADIMIR SAFATLE

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  3. Muito bem Mila!
    Este texto aí acima do filósofo brasileiro vem para concordar conosco.
    Nem todos vendem seus sonhos...
    besos!

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