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31 dezembro 2010

Amizade

Abrindo o novo ano com um textinho do meu livro "A Caixa de perguntas e outras histórias de aprendiz" (ainda não publicado)...


O amor do amigo


Em volta do fogo de chão e junto dos velhos homens que bebiam mate e contavam casos, o jovem Atahualpa Yupanqui ouviu da boca de um deles uma das mais belas definições do que seja a amizade. “Um amigo é a gente mesmo com outra pele”, disse um dos velhos. O menino, que seria depois um criador de preciosidades poéticas, carregaria para sempre essa frase consigo. E junto dela a imagem dos velhos trabalhadores em círculo.

O amigo, esse ser que multiplica o espelho da minha alma, como disse Vinícius de Moraes que, décadas depois (e sem fogo algum que o calor do Rio de Janeiro) reunia os amigos. Dizem que sua casa vivia repleta e que sem eles o grande poeta não podia suportar a vida. Vinícius abria suas portas a artistas da palavra e da música, e dessa generosidade e das amizades criadas surgiram muitos dos melhores momentos de nossa cultura. A amizade como poderoso motor de criação.

Nossos amigos às vezes desconhecem o quanto os amamos. Mas sentem de alguma maneira nosso carinho e afeto, porque têm aquela sensibilidade, aquela coisa a mais que diferencia o verdadeiro amigo dos demais.

Há amigos com os quais nunca conversamos, nem um “oi”, mas sentimos uma cumplicidade no olhar que não há ciência que consiga explicar. Fica algo no ar e a certeza escondida de que daqui a um tempo (um mês, dois anos...), uma coincidência qualquer nos coloque uma situação comum. Então paramos e nos conhecemos, em palavras.

Algumas pessoas encontramos apenas de tempos em tempos. E vem então aquela impressão de que não estavam longe, de que a saudade foi apenas um engano. Por vezes acreditamos percebê-las à distância e enviamos mensagens imaginárias, para uma dimensão incerta, na esperança que do outro lado da cidade ou do mundo estejam nos ouvindo.

Quando visitamos um amigo que há muito não vimos, ele logo reclama nosso sumiço. Mas sabe que em todo lugar nos dizem isso e que compreendemos pouco, muito pouco, das distâncias e dos dias que vão e vêm assim tão rápido.

Tem a amiga que sonha poder voar como os pássaros, ouvindo lá do alto o eco das vozes vindas com o vento vagabundo e indiferente. Tem o amigo que, brincando com a água viva encontrou-se com a morte. E aqueles outros, invisíveis, que se foram há séculos mas deixaram seus livros (que ainda iluminam). Lembro bem daquele perturbado amigo, que abaixou-se na chuva e fez uso de uma poça d'água para diluir a química ardente que lhe invadiria as veias.

Entro na casa do velho amigo. Ou do novo amigo velho. Sala perfumada de livros, odor inigualável. Onde habitam os grandes iniciados e seus pensamentos vivos. Alguns amigos, como ele, moram onde a arte caminha como trepadeira pelas paredes. E outras, como a velha amiga, vêem em mim realizados os sonhos que sonharam para si. (...)

Todo dia é dia do amigo. Então, já que hoje é dia dele, não será demais deixá-lo com estas palavras, e terminar com a loucura poética e amiga de Nietzsche: “Existe realmente, aqui e além na terra, uma espécie de prolongamento do amor, no qual o desejo que dois seres experimentam um pelo outro dá lugar a um novo desejo, a uma nova cobiça, a uma sede superior comum, a de um ideal que os ultrapassa a ambos: mas quem é que conhece esse amor? Quem o viveu? O seu verdadeiro nome é amizade.”


Elenilton Neukamp

06 dezembro 2010

Érico

Este é o Érico.
Ele nasceu no dia 24 de novembro.
É sagitariano.
Os pés ligeiros que cavalgam sobre as certezas móveis da Terra.
O corpo esguio de homem com suas lutas para viver e mudar a vida.
E o arco retesado de sonhos,
lançando as flechas afiadas da utopia.

Teu lugar é de lucidez? De líder? Rebelde, tranquilo, resignado?
Tudo isto só a ti cabe.
Escolhe.
A mim cabe a vigília, o cuidado.
Os braços que te carregarão quando dormires
e que apontarão para ti as estrelas.
Eu irei te ajudar a ver o mar,
quando teu olhar emocionado nele mergulhar.