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21 julho 2010

A ética e o cocô do cachorro




Todos os dias saio com minha cachorrinha. Ela precisa fazer seus passeios diários, e suas necessidades também. Levo sempre no bolso uma sacolinha plástica. É simples. A Míti (este é o nome dela) faz seu cocô e eu junto-o com a própria sacola, que irá para o lixo.
O que deveria ser regra torna-se exceção.
Os adolescentes da rua, quando me veem fazer isso, trocam olhares e risos. É muito engraçado ver um sujeito limpar a sujeira de seu cão.
Os mais velhos, muitas vezes, me param na rua e dão conselhos. Você sabe que conselhos eles me dão? “Pare de fazer isso..ninguém limpa, porque você deveria limpar?”. Os outros não fazerem a coisa certa é então argumento para que eu também não deva fazer.
Outro dia, estava eu juntando o cocozinho da Míti em frente a uma casa, quando o dono saiu rapidamente. Pensei que iria reclamar. Que nada! Tentou me persuadir a não limpar a sujeira já que, segundo ele, já havia muito cocô espalhado pela calçada e não haveria por que eu fazer isso.
Estranho mundo este em que vivemos, onde as pessoas tentam lhe convencer a não ser educado e a não respeitá-las.
Hoje mesmo, num pequeno espaço de grama ao lado de uma casa, fui novamente surpreendido. A Míti fazendo aqueles movimentos todos de preparação, e eu já com a sacolinha na mão. De repente ouço um grito: “Não! Não precisa juntar não!”. E eu tentando me explicar: “Ao menos um juntando já faz uma diferença”. O senhor que me lançou a palavra seguiu: “Pois é, se todo mundo tivesse a educação que vocês têm o Brasil seria outro!”.
Sim. Aí está a questão. Vacilamos no pequeno gesto. E o que chamamos de ética acontece nas pequenas coisas do dia a dia. Ninguém limpa, ninguém pensa no outro que pode passar e sujar os sapatos, nada acontece – e a merda (literal e simbólica) se espalha pelo país.
Meus vizinhos de classe média julgam-se detentores da verdade quando criticam os políticos, por exemplo. Mas levam seus enormes cães de raça para fazer sujeira em frente à casa dos outros. Certamente não é apenas neste ato que contradizem a tal “ética” que cobram dos outros.
Logo teremos a eleição. Como votarão as pessoas? Certamente pensando na generalização do erro, do desvio. Por que escolher um bom representante se a maioria deles não presta? Mais fácil seguir as pesquisas que nos empurram, e fingir que o mais lembrado é o melhor.
A aceitação de que agir pensando no coletivo é equivocado não representa uma “inversão de valores”, como muitos dizem. Os valores é que são outros, infelizmente.
Assim, tudo passa a valer. Inclusive mandar matar a amante, picoteá-la e jogar o cadáver aos cães (isto apenas para citar o exemplo mais absurdo).
Como disse o Saramago em seus últimos escritos, precisamos mais do que nunca de filosofia no mundo atual. Filosofemos então.


(Foto: Míti no Farol, janeiro de 2010)

14 julho 2010

Albertos

Dois Albertos

Meu pai me apresentou os pássaros.
Meu tio me ensinou a ler os seus voos.
Alberto é um nome que faz parte da minha carne.
Sete letrinhas.
O dionisíaco de um com seu violão, a cachaça e as canções
inventadas para fazer sorrir.
O apolíneo do outro, iluminando com a lanterna pinheiros misteriosos
e saciando minha curiosidade com suas palavras e livros.
Um é loucura, delírio, desejo escorpiano de vida e paixão.
Outro é sensatez, tranquilidade, celibato e meditação sobre a técnica.
Entre um e outro, eu.
Em minha sensatez toda insensata desaprendi a tocar o violão.
Em minha insensatez quase sensata ainda nem escrevi o livro, não inscrevi parte de mim nas veias da terra.
Místico sem fé.
Vagando entre momentos solitários e lençóis coloridos.
Comigo a língua portuguesa quer ir pro brejo.
Os dois Albertos. Alentos.
Entre um e outro
Eu.

01 julho 2010

Pequenos livros e grandes pessoas


Lançamento do minilivro "Anko e Ruth: à sombra das nogueiras" de Elenilton Neukamp
Dia 6 de julho, às 19:30h - em comemoração aos 8 anos da Editora Nova Harmonia
no Villa D'Assisi em São Leopoldo
Av. João Corrêa, 896 2º andar (esquina com Marquês do Herval)
Fone: (051) 3037 3370
Vem conhecer o livrinho e provar um delicioso licor de nozes.
Vamos nos encontrar lá pra conversar sobre o minilivro, os livros, o Saramago...
Estará conosco o Antonio Sidekum, um grande filósofo e amigo.