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10 junho 2010

A flor da palavra


A flor da palavra necessita ventos límpidos e água branda. Boa terra para desenvolver sua tranquilidade mineral. A flor da palavra estava viva em broto na boca do homem. A flor da palavra despertou os pássaros na pétala da língua da mulher. E subiu nas árvores, e tornou-se fruto e montanha e água e horizonte no dizer das gentes. A flor da palavra se alastrou por todos os lados. Multiplicou e virou planta animal pedra máquina e gente no amarelo dos campos férteis e na erva daninha das cercas. E num terceiro ou último dia subiu aos céus e virou cogumelo de fumaça e desceu à terra e envenenou o alimento do homem e voltou à superfície e moldou mutantes horrendos no ventre da mulher. A flor da palavra desapareceu. E passaram-se muitos e muitos tempos em que de novo foi o silêncio o primeiro a existir. Até que vieram outros ventos fogo água terra barro e um bicho estranho sem saber vomitou no mundo a semente. A flor da palavra rebentou e a Natureza voltou a saber de si.


('A flor da palavra' é um livrinho de poemas em construção)

Um comentário:

  1. Olá ELENILTON!! Resolvi fazer uma visita por estes pagos, parabéns pela publicação de mais uma obra literária.Na próxima não faltarei. Abraços

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