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25 maio 2010

Solidão



Na ilusão de esconder-se da solidão
os homens criaram máquinas
de fazer barulho.
E puseram-se a bater seus enormes tambores.
E amplificaram alto-falantes,
caixas sonoras, bumbos
e bombas.
Tontos, todos eles.
E eu.
A solidão é surda e muda.


Mas sempre há um ser alado
esperando para nos aquecer
nas suas asas amigas.

21 maio 2010

O chimarrão




No início o chimarrão era uma bebida ritual. Invenção dos indígenas daqui. Bebida que energizava e animava. Pura curtição. A tribo toda se alegrava. A Nação em festa pedia bis.
Depois vieram os jesuítas. Consideraram o mate uma droga, um perigo. A erva-mate foi proibida. Não se podia mais beber, assim como não se pode fumar uma outra ervinha que anda fazendo cheiro por aí. Até o Roberto - antes de ser rei - sabia que era "proibido fumar".
Os paulistas viajaram pro sul, conheceram a erva (a de beber) e pediram mais. Os jesuítas liberaram, plantaram e até passaram a vender em grande quantidade. Bom negócio. Nem cana mais dava. Sem quantidades mínimas, à vontade.
Hoje todo mundo bebe seu chimarrão, na boa, e nem precisa dizer "legalize já". Ele ficou tão pop que agora anda na boca de qualquer um.
Nas esquinas se formam grupinhos, em círculos, e vão usando sua erva ritual. Se diz até que o negócio pode ser medicinal.
Lembram da música clássica do Nei Lisboa?
"Entrei numa roda e me deram uma coisa pra provar/uma erva galhuda, esverdeada, e gostosa de chupar/e dá barato sim../vai bem com tudo e é bom pros rins..."

Pois é. Nem só de mate amargo vive o homem. Mas é barato sim.

(Foto de Antônio Sobral/Correio do Povo, 21/05/2010)

17 maio 2010

Os livros


Em outros tempos os livros funcionavam como cartas, endereçados que eram a amigos imaginários. Hoje eles continuam sendo cartas, mas talvez tenham perdido muito do seu poder simbólico. Paradoxalmente, há muitos milhões de pessoas lendo no mundo atual mas o poder dos livros torna-se cada vez mais limitado. Mais leitores, menos leitura encarnada. A literatura continua, os livros continuarão enquanto seguir o bicho humano sobre o planeta. Porém são sempre mais pequenos os grupos onde o ler transforma a vida. O verbo não se faz mais carne.

14 maio 2010

Santa ingenuidade

A Celulose Riograndense doou hoje milhares de cadernos para as escolas de Porto Alegre. Teve até o prefeito lá. E danças em uma escola. Aparentemente isto é algo muito bom.

O que parece boa ação, no fundo é somente propaganda. Esta empresa é uma das maiores poluidoras do rio Guaíba. O nome do lixo tóxico (resultado da produção de papel): dioxinas.
Então os maiores poluidores entram nas escolas, com o apoio dos governos, fazendo ares de bons moços. E falam em preservação ambiental!
Triste ver como os professores ingenuamente entram nessas. E armam até palquinhos nas escolas para empresários e políticos "espertos". E ficam os alunos fazendo papel de figurantes, dançando em frente a tipos como o Fortunati.
Minha escola (a maior de Porto Alegre) está um abandono só. A prefeitura só investe em duas ou três, que irão aparecer nos comerciais de TV. Nas demais, faltam professores, estrutura, atendimentos na rede de saúde.

10 maio 2010

Que castigo?

Que castigo merecem os oficiais da Polícia gaúcha (Brigada Militar) que desviaram 5 mil telhas que seriam destinadas aos flagelados?

a) cadeia, prisão, xadrez (destinada a este e outros tipos de bandidos)

b) trabalhos forçados

c) carregar durante anos, pendurado no pescoço, algum enorme objeto que lembre o quanto são estúpidos, desumanos, horrendos (como na Idade Média)

d) um mês, um ano, qualquer tempo vivendo sem um teto (sem telha alguma sobre a cabeça)

e) que suas casas sejam marcadas, para que não deixem crianças pequenas por ali passarem (evitando assim qualquer tipo de contaminação)

Se você tem outras ideias, não deixe de se manifestar. Aceitamos sugestões.

06 maio 2010

Um beijo


"Os olhos dela eram rios de doçura onde ele poderia atirar-se sem nenhum medo, navegá-los como um marinheiro que se entrega ao mar, entregar-se àquelas correntezas de alegria. Poderia dizer-lhe, como no Cântico dos Cânticos, que desejava beijar os beijos de sua boca."

Trecho do meu livrinho "Anko e Ruth: à sombra das nogueiras".